Técnicas Sanguíneas - Capítulo 10

Oi, gente.

Eu espero que vocês tenham sofrido muito ao longo dessa última semana.

(Eu sou uma autora de ficção, eu me alimento de lágrimas de leitores. Desculpa.)

Em minha defesa, pelo menos eu não fiz uma pausa aleatória para prolongar o cliffhanger.

Então... como será que Haruka vai reagir ao ouvir sobre as escapadas de Daisuke? Descubra hoje, em Técnicas Sanguíneas!

Banner de fundo vermelho escuro, com vinhas e flores douradas, e o título "Técnicas Sanguíneas" em uma fonte serifada, vermelha com efeitos metálicos, meu nome em baixo na cor branca (A. C. Dantas)

Aviso de conteúdo: esta é uma história de vampiros. Sangue e gente escrota manipuladrora são esperados. Para conseguir o que querem, vampiros vão recorrer a técnicas de coerção e manipulação variando desde gaslighting, ameaças, e violência física e psicológica.

Capítulo 10

 Akihito mantinha Daisuke num ritmo acelerado, forçando o ex-caçador a exaurir ainda mais suas reservas de sangue. Em algum ponto do trajeto, Daisuke teve a impressão de ver o vampiro acenar com a cabeça e uma sombra distante sumir em velocidade rápida. Quando chegaram na mansão, os corredores estavam desertos. Provavelmente a figura indistinta era um dos subordinados de Akihito, e sob ordens do seu patrão havia acorrido na frente para avisar que o caminho deveria estar livre. O chefe estava num péssimo humor.

 Haruka saiu ao encontro deles, recebendo-os antes que virassem o corredor que dava para o quarto dela.

 — Aki! Kim disse que você o encontrou. Onde ele estava?

 Finalmente o vampiro soltou Daisuke, empurrando-o um pouco para frente ao fazê-lo.

 — Diga a ela, Daisuke.

 Ele engoliu em seco, verificando que sua mandíbula estava de volta no lugar. Também foi uma oportunidade para juntar coragem.

 — Eu andei me encontrando com caçadores de vampiros.

 — E? — Akihito pressionou.

 — E passei informações pra eles sobre a movimentação dos vampiros daqui.

 Os olhos de Haruka faiscaram. Ela cruzou a distância entre eles muito rápido e, como Akihito, segurou o rosto dele com uma mão. Em vez de apertar, ela o examinou. Os ossos sob a pele podiam estar curados, mas ainda havia evidência da violência recente.

 — Você fez isso, Aki?

 — Ele precisava ser disciplinado.

 — Mas ele é meu, Aki. Não é prerrogativa sua.

 — Eu só queria ajudar, irmãzinha.

  Ela não conseguiu manter a cara fechada por muito tempo.

 — Eu sei. Obrigada por trazer ele de volta.

 — Qualquer coisa por você, irmãzinha. O que vai fazer com ele?

 — Eu ainda não decidi.

 — Eu acho que você devia…

 — Aki, por favor. Me deixa fazer isso.

 Contrariado, Akihito se afastou. Haruka passou vários instantes ouvindo — Daisuke assumiu que ela estivesse esperando o som dos passos do irmão desaparecer completamente — e indicou a porta do próprio quarto. Daisuke não sabia o que esperar, mas entrou.

 Haruka o seguiu para dentro do aposento, mas em vez de se sentar sobre suas almofadas elegantes, ela andava em círculos ao redor de Daisuke. Após o que pareceram minutos de escrutínio, ela atacou. Um golpe certeiro, na base da crânio, danificando a espinha. Sua visão escureceu, e sentiu o poder vampírico sugando suas energias para tentar consertar o que quer que estivesse errado. Exceto que tudo parecia errado. Daisuke não sentia os braços e as pernas, mas ele ouvia o barulho dos ossos sendo quebrados enquanto Haruka trabalhava. Sua energia estava baixa demais para consertar tudo, e não conseguia decidir o que consertar primeiro. Sentia a magia tendendo para a fratura na espinha, mas sua mente consciente a segurava, sabendo que recuperar a sensação dos braços e pernas nesse momento seria uma má ideia.

 — Você ainda está consciente?

 Ele estava no chão, e Haruka se debruçava sobre ele. O rosto dela ocupava toda a sua visão, ainda embaçada, mas se recuperando. Abriu e fechou a boca. Piscou. Falar era mais difícil do que esperava.

 — Bom. Então agora você vai me ouvir.

 Haruka diminuiu o volume da voz, e Daisuke podia jurar que ela lançara um olhar rápido em direção à porta.

 — Tudo nessa casa é do meu irmão, Daisuke. Os servos, os segunda-classe, a mobília, os quadros. Você tem ideia do quão frustrante é ser uma vampira puro-sangue adulta e não ter meu próprio clã, meu próprio território? É claro que nunca me falta nada, mas nada disso é meu. Como poderia? Graças a essa habilidade sanguínea inútil, eu não posso ficar criando segunda-classes. E porque eu não tenho sangue primário, eu não posso deixar meus segunda-classes ficarem criando terceira-classes. Depois de Hong Kong eu finalmente entendi isso, e estou fazendo o melhor possível para me adaptar, mas não é o suficiente. Eu queria alguém pra trabalhar pra mim. Alguém que não vai sair por aí contando ao meu irmão pra onde eu fui e a que horas e com quem. Alguém que não vai ficar indisponível caso meu irmão precise dele para outra coisa. Alguém que, quando eu brigar com meu irmão, vá dizer que eu estou certa, e não “senhorita Haruka, você deveria reconsiderar, Mestre Akihito tem os seus melhores interesses em mente”.

 Ela tomou um segundo para se acalmar após dizer as últimas palavras em falsete.

 — Já que eu não posso ter muitos subordinados, eu tentei compensar na qualidade. Como caçador de vampiros, você era bem eficiente. E protestou menos do que eu esperava contra a transformação. Você não fez uma tentativa séria de fuga, não tentou se matar e levar todos nós junto com uma bomba caseira. Você definitivamente não é o caso mais difícil que eu já tive que enfrentar. E ainda assim você não estava ficando amiguinho dos subordinados do meu irmão, participando de missões com eles, se metendo nas brigas de território. Já que você estava se adaptando à vida de vampiro, mas não se tornando um lacaio do meu irmão, eu achei que eu e você poderíamos encontrar uma dinâmica que funcionasse. Claramente eu estava enganada.

 Ela colocou uma mão no peito dele e fez pressão. As vértebras danificadas na coluna protestaram. Toda a energia que ele tinha disponível para a cura fora gasta, e sua visão começava a escurecer de novo. A pressão continuou aumentando, e ele sabia que Haruka era capaz de continuar aumentando a pressão até estourar a caixa torácica e literalmente esmagar seu coração, e apenas escolhia não fazê-lo.

 — Então eu vou te dar uma escolha. Eu não estou pronta pra desistir de você. Eu posso passar até uma década tentando resolver as coisas com você. Mas hoje eu estou furiosa. Então a primeira opção é que hoje você se arrasta pra fora da minha presença em silêncio, e eu não só deixo você viver como, assim que você acordar, considero uma página virada na nossa história e volto a te alimentar.

 Daisuke lembrou de quando Alana o atacara e ele ficara duas semanas desacordado.

 — Ou a gente pode acabar logo com essa novela e se resolver hoje. Você pode me dizer o que eu quero ouvir e, se você acertar, se realmente conseguir me convencer da sua sinceridade, eu posso te alimentar hoje.

 O que ela faria se ele dissesse a coisa errada estava implícito. O silêncio era a opção mais segura… e também uma garantia de dias, possivelmente meses de apagão ocasionados pela falta de sangue. Daisuke não queria pensar em como estaria completamente à mercê dela se estivesse desacordado. Não queria pensar em como estava à mercê dela agora. Mas não tinha que pensar tanto assim: sabia o que Haruka queria ouvir.

 — Eu vou trabalhar pra você.

 Haruka o examinou.

 — O que disse?

 — Eu disse… — falar estava requerendo energias que ele não tinha — … que vou trabalhar pra você.

 — Eu esperava que você fosse dizer “me desculpa”.

 Um pouco sem pensar, ele deu de ombros. O movimento provocou toda sorte de dores.

 — Não era isso que você queria ouvir.

 A vampira não esperava que ele fosse tão perceptivo. Ela estava preparada para poupar a vida dele caso ele houvesse simplesmente pedido desculpas.

 — Não me traia. — Ela avisou.

 — Não vou. — Ele respondeu, os olhos se fechando. Estava tão cansado. E então sentiu o corpo inteiro ficar alerta quando o cheiro do sangue de Haruka chegou até ele. Abriu os olhos. Ela havia mordido o próprio braço, e o estendia para ele.

 — Beba.

 Daisuke obedeceu.

 Dessa vez estava sedento demais para parar na quantidade usual, e Haruka também não se desvencilhou. Continuou bebendo, e seu corpo começou a se regenerar. Quando as dores pararam, percebeu que estava ajoelhado diante dela, como normalmente fazia, mas que a vampira puro-sangue estava descomposta, um pouco trêmula e permitindo que ele segurasse seu braço com uma firmeza indelicada. Notando isso, ele fez um movimento para soltá-la e se afastar.

 Haruka o impediu.

 — Não pare.

 Não parecia uma boa ideia, mas ele não podia negar que queria mais. Não era sobre o gosto do sangue — o gosto não parecia significativamente diferente do que seria para um humano — era sobre seu organismo reconhecer aquilo como uma fonte de energia. “Isto é o que me mantém vivo”. E reagir de acordo.

 Era uma sensação tão boa, Daisuke percebeu, estar saciado, e não apenas sobrevivendo com o mínimo do mínimo.

 — Chega. — A voz de Haruka não passava de um sussurro.

 Daisuke a soltou, e Haruka tornou a se recostar sobre suas almofadas. Fechou os olhos. Ela estava muito pálida, e se movia devagar.

 — Me traga uma das empregadas.

 — Certo…

 — E, Daisuke? — Ela abriu os olhos, soando mais firme e alerta do que Daisuke achava possível. — A pessoa que você trouxer não vai sair daqui viva.

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