Técnicas Sanguíneas - Capítulo 21

Sobre bebidas

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

Hoje é dia de conhecer personagens novos! No plural! Me contem o que acharam deles!

Enquanto isso, estou tentando ser mais regular no meu blog. Semana passada soltei um post sobre Digimon, falando sobre temas complexos que eu consegui absorver da série mesmo na infância versus os que eu só fui entender mais velha — razão pela qual eu defendo que shows infantis podem ser complexos e absolutamente não precisam ficar repetindo a moral da história a cada cinco minutos.

Outras notícias incluem que eu voltei pra terapia, yay. Também peguei para finalmente terminar de assistir Casa da Coruja, é bem gostoso. Mais atualizaçãoes sobre o que estou lendo e assistindo vão ficar para o próximo boletim de notícias.

Sem mais delongas… seu capítulo semanal de Técnicas Sanguíneas.

Banner de fundo degradê preto em cima e vermelho escuro em baixo, com vinhas e pétalas douradas espalhadas ao vento, e o título "Técnicas Sanguíneas" em uma fonte serifada, vermelha com efeitos metálicos. Acima e abaixo do título, na cor branca: A. C. Dantas, e parte 2.

Aviso de conteúdo: esta é uma história de vampiros. Sangue e gente escrota manipuladrora são esperados. Para conseguir o que querem, vampiros vão recorrer a técnicas de coerção e manipulação variando desde gaslighting, ameaças, e violência física e psicológica. Podem ocorrer também menções ou alusões a abuso sexual.

Capítulo 21

Sobre bebidas

Daisuke odiava perceber que estava se acostumando com luxo e demonstrações descabidas de riqueza, mas a verdade é que o escritório de Wilson era simples quando comparado às mansões de Akihito e Weiss. Onde os outros dois teriam estantes de madeira de lei forradas com livros de lombadas elegantes, Wilson tinha uma mesinha lateral com revistas e estatuetas decorativas. Sobre a mesa estava pendurado um espelho retangular grande, porém simples. Atrás da sua mesa tinha também um armário cujas portas de vidro permitiam ver uma coleção de garrafas e taças. O computador de Wilson não era tão moderno quanto o notebook de Akihito. Quando visitara Weiss o líder de gangue não tinha um computador em sua mesa, mas Daisuke não duvidava que ele pudesse comprar um superior ao de Wilson.

— Então, você é neto do Constantino. — o dono do escritório foi até a porta cumprimentá-lo, e Daisuke ficou alarmado porque Wilson parecia muito jovem. Se ele fosse humano, Daisuke não hesitaria em acreditar que estava diante de um adolescente. Ele podia ter dezenove, vinte anos, mas também podia facilmente ter dezessete. Ele era loiro, mas num tom bem mais escuro que o de Weiss, quase dourado e, como Akihito, parecia adepto de ternos. Estendeu a mão para Daisuke, que a apertou com aquela mesma sensação de repulsa que tivera ao ser trazido para o prédio.

— Sim. Meu nome é Daisuke.

— Sua mãe é a Bárbara?

— Sim, senhor.

Chamar qualquer um de “senhor” soava estranho para Daisuke, especialmente com alguém de aparência tão jovem, mas a instrução de Bárbara era que a prole de Constantino era “respeitosa com os mais velhos”. Melhor errar pelo excesso do que pela falta.

— Eu imaginei que Constantino não viria pessoalmente, mas eu confesso que estou surpreso por ele não mandar um dos filhos diretamente.

Daisuke deu de ombros, tentando parecer apologético.

— Eu também fiquei surpreso.

— E quantos anos você tem, Daisuke?

Bárbara dissera que essa era uma pergunta comum dos vizinhos para os membros da família, e que ele devia responder contando apenas os anos vampiros.

— Um ano, senhor.

Wilson deu um sorriso surpreendentemente genuíno.

— Praticamente o bebê da família. Nesse caso, vamos adiantar as coisas. Eu sei como vocês jovens ficam ansiosos quando estão longe de casa.

“Ficam?” Daisuke achou a informação surpreendente. Havia passado todo o seu primeiro ano como vampiro tentando se manter o mais distante possível da sua “casa”. Wilson se dirigiu para o armário de vidro.

— Por favor, aceite uma bebida. Uísque?

Wilson já servia um copo para si mesmo, uma dose que Daisuke tinha certeza que não era apropriada para consumo humano, mas pausou a garrafa a meio caminho do copo de Daisuke, esperando ele aquiescer.

— Ahn… eu sou abstêmio.

O primeira-classe sorriu.

— É? Ou era?

Daisuke deu à pergunta a devida consideração.

— Vampiros ficam bêbados?

O sorriso de Wilson aumentou ainda mais, mostrando as presas, mas apesar do arrepio de alarme Daisuke tinha quase certeza de que a intenção do outro não era ameaçadora.

— Não com sangue. — Wilson respondeu, e sorveu um gole da própria bebida.

Isso deixou Daisuke tão genuinamente confuso que o líder de gangue riu.

— Depois pergunte à sua mãe sobre o que deixa vampiros bêbados. Mas e então, ainda um abstêmio?

— Acho que não… Mas só meio copo, por favor?

Wilson aquiesceu, serviu, e ficou observando enquanto Daisuke tomava os primeiros goles.

O ex-caçador ficou em dúvida se devia opinar sobre a bebida. Com certeza não havia conseguido disfarçar sua careta, mas não parecia produtivo explicar que parecia estar bebendo uma espécie de gasolina com um toque de cereal.

E então Daisuke vomitou. Só teve tempo de pensar que por sorte o piso era laminado, e não madeira de verdade, quando a segunda onda o atingiu. Wilson o olhava fascinado, mas Daisuke não conseguia prestar atenção nele. Conhecia aquela sensação de veias queimando.

Era o que acontecia quando tentava beber sangue que não era de Haruka.

***

— Constantino, por que Wilson iria querer dar sangue pra você ou os seus filhos?

— Depende. Sangue de quem?

Daisuke havia retornado ao território de Constantino num estado deplorável. Os filhos de Constantino haviam dito isso, os subordinados de Wilson haviam dito isso, e até o próprio Wilson. Wilson chegara ao cúmulo de oferecer que Daisuke caçasse em seu território para repor as forças, e o ex-caçador precisara fingir que a ideia de caçar no território vizinho é que era o problema, não o fato de caçar em si. Por sorte Wilson pareceu satisfeito com essa explicação, e elogiou a diplomacia de Daisuke, dizendo que agora entendia porque Constantino havia enviado alguém tão jovem.

Com algum esforço Daisuke conseguiu se manter concentrado enquanto Wilson propunha uma troca: queria alguns quarteirões de território de caça, adjacentes à zona livre, e daria à família de Constantino livre circulação da região fronteiriça da área neutra. Daisuke sabia que ceder uma rua sequer de territórios de caça costumava resultar em brigas violentas, mas achava que a proposta não era absurda. A região que Wilson controlava próximo à área neutra era parte do centro expandido, pegando vários prédios históricos da cidade. Considerando tudo, era uma região agradável para vampiros, com bastante comércio aberto até altas horas, talvez até algumas lojas noturnas — aquelas que sabiam que parte da sua clientela consistia de vampiros.

Depois de ouvir atentamente à proposta, Daisuke voltou cambaleante para o território de Constantino.

— Eu não sei. — respondeu à pergunta do vampiro — Eu nem senti o gosto de sangue.

Constantino franziu as sobrancelhas.

— Ele tentou te dar sangue sem você saber?

Daisuke assentiu, e o vampiro ancião esfregou as têmporas, resmungando.

— Mais um com uma técnica sanguínea. Eu juro que essas crianças ainda vão me dar um infarto.

Era interessante saber que Constantino considerava outros vampiros da região como crianças, mas o que preocupava Daisuke era essa conversa sobre técnicas sanguíneas.

— Wilson tem uma habilidade?

— Ele deve ter. Não tem muitos outros motivos pra batizar uma bebida com sangue e não avisar para a pessoa que está tomando. — ele fez uma pausa ao ver a expressão confusa de Daisuke — Você conhece a pivete de cabelo azul que solta gelo pelas mãos?

— Alana?

— Sim. Habilidades como a dela são raras. A maioria das habilidades sanguíneas só agem sobre quem bebe o sangue do usuário. Uma espécie de salvaguarda para evitar que vampiros mais jovens se juntem para derrotar puros-sangues.

Daisuke tentou pensar em exemplos. A habilidade de Haruka com certeza diminuía muito o incentivo das pessoas em matá-la. Havia a chance de que a morte de Haruka o liberasse, mas ele definitivamente não queria se arriscar a descobrir.

— Eu suponho que você queria comunicar a sua descoberta à sua mãe imediatamente. E se alimentar. — Constantino interrompeu suas reflexões. — Ou você ainda quer ver Hana?

Daisuke hesitou. Saíra vendado do escritório de Wilson e fora levado a pé até a fronteira. De lá andara até a base de Constantino. Havia demorado o dobro do tempo habitual, se sentindo completamente sem energia. Em teoria sabia que podia aguentar mais, havia aguentado mais no passado… mas não conseguia se privar voluntariamente de sangue de novo.

— Como ela está?

— Ela parece bem adaptada. Creio que seja a criação incomum entre os funcionários de Akihito, mas por vezes ela parece mais confortável com a vida noturna do que as próprias trigêmeas.

O comentário tirou de Daisuke um peso que ele não sabia que estava sentindo. A última coisa que queria é que Hana passasse pelo mesmo trauma e conflito interno que ele.

— Eu acho que vou deixar para vê-la da próxima vez. Quer dizer, eu suponho que vá ter uma próxima vez, não é? Não faz sentido eu te fazer um único favor em troca de cuidar dela por tempo indeterminado.

Constantino assentiu.

— Você me prestou um serviço valioso hoje, Daisuke. Se um dos meus filhos tivesse ido, a essa altura Wilson teria algum tipo de poder sobre eles, e eu detestaria isso. Por um serviço desses eu poderia deixá-lo caçar no meu território pelo menos por uma noite, mas infelizmente não seria de grande ajuda para você. Então sim, eu pedirei sua ajuda com outros assuntos, mas você não precisa esperar até essa ocasião para vê-la. Você pode ir e vir do meu território.

Era uma oferta generosa, e Daisuke sabia disso. Agradeceu, e se pôs a caminho da mansão.

***

Daisuke chegou em casa trôpego. Precisava ativamente se lembrar que não estava procurando Haruka só para ser alimentado.

— Haruka, eu tenho notícias muito interessantes. — anunciou, e abriu a porta corrediça.

Parou.

Haruka estava sangrando.

Não ferida. Ela estava de pé, uma mão segurando a manga do kimono dobrada enquanto a outra mão estendida sangrava nas quatro marquinhas deixadas pela própria mordida. Ainda segurando o braço dela, um homem ajoelhado a seus pés. Coreano, Daisuke chutou. Não teve tempo de reparar em mais detalhes, porque sua visão ficou vermelha.

Queria arrancar ele dali com garras e dentes, e beber as gotas finais que escapavam das veias de Haruka antes que a pele da vampira terminasse de se fechar.

— Você deveria ter esperado, Daisuke. — ela recolheu o braço e sacudiu a manga do kimono para ajeitá-la. O olhar dela era penetrante.

A exaustão atrapalhava seus pensamentos, então Daisuke demorou vários segundos para perceber o que devia dizer.

— Me desculpa.

Haruka assentiu, satisfeita.

— Só dessa vez.

O vampiro que se alimentava do sangue de Haruka se ergueu. Ele era alto, e usava um terno. Daisuke jamais o havia visto, sequer de relance, mas o homem estava confortável demais para ser recém-transformado. Haruka se dirigiu a um baú, e tirou de dentro dele uma embalagem de telefone celular idêntica à que Daisuke havia recebido dias antes.

— Você pode devolver o aparelho que meu irmão te deu. Este é o seu telefone agora.

Kim não pareceu gostar da ideia, e Daisuke ficou observando com interesse velado o que parecia ser uma nova iteração de uma discussão antiga.

Não que houvesse muito espaço para discussões. Se Kim era dependente do sangue de Haruka, precisava se manter nas boas graças dela tanto quanto Daisuke.

— Você está dispensado por hoje, Kim.

O vampiro coreano relutava em deixá-la sozinha com Daisuke, mas alguma coisa na voz de Haruka deixava claro que ela não aceitaria protestos.

Então, agora vocês conhecem o Wilson, famoso por às vezes sair matando membros da própria gangue. Por que ele faz isso? Constantino sugeriu que ele tem uma técnica sanguínea, vocês tem teorias? Vocês podem comentar nas redes sociais usando a hashtag #TecnicasSanguines, comentar aqui no site, ou só responder esse e-mail <3

Não percam o capítulo da semana que vem, no qual Daisuke começa a perseguir seu próximo objetivo.

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