Técnicas Sanguíneas - Capítulo 5

Então, agora vocês conhecem a Alana. Ah, a Alana... vocês vão ouvir falar muito dela na segunda parte.

(Para quem não estava aqui antes do capítulo um, em um post anterior eu explico sobre a estrutura da narrativa em partes. "Noite sem fim" é a parte 1, e quando ela acabar Técnicas Sanguíneas entra em hiato até eu terminar de escrever a parte 2)

Não tenho muito mais suspense para fazer antes do capítulo de hoje. Ele fala por si mesmo.

Um detalhe importante que e chamaram a atenção é que o Beehiv não tem botão de deixar comentários, mas se vocês usarem a função de responder o email eu recebo do mesmo jeito. Comentários me animam demais, não existe comentário simples demais ou inarticulado demais, quero ler todos eles <3

Fora isso, ainda tem 48 horas para apoiar a campanha de "Bruxas, Sábias e Terríveis" no Catarse. O meu conto fala sobre uma bruxa que transforma os ex-namorados tóxicos das amigas em pássaros. Garanta já o seu:

Banner de fundo vermelho escuro, com vinhas e flores douradas, e o título "Técnicas Sanguíneas" em uma fonte serifada, vermelha com efeitos metálicos, meu nome em baixo na cor branca (A. C. Dantas)

Aviso de conteúdo: esta é uma história de vampiros. Sangue e gente escrota manipuladrora são esperados. Para conseguir o que querem, vampiros vão recorrer a técnicas de coerção e manipulação variando desde gaslighting, ameaças, e violência física e psicológica.

Capítulo 5

 Por mais que Daisuke prolongasse o intervalo de suas visitas a Haruka, não havia como negar os efeitos de ter uma alimentação regular. Esperava o máximo que podia antes de ir ao quarto dela e ter que se ajoelhar para beber sangue no pulso estendido da vampira, mas depois do incidente com Alana não conseguira se forçar a enfrentar a fome — sede? — por mais de duas semanas. E isso era o suficiente para que não se sentisse mais cansado o tempo inteiro, e os sentidos ficassem afiados como se antes ele tivesse algodão enfiado nos ouvidos e nariz. O cheiro das empregadas humanas agora ficava mais tempo num local depois que elas partiam, e Daisuke começava a encontrar trilhas que lhe permitiriam segui-las caso desejasse, mas estar alimentado trazia a ele a segurança de que não atacaria Hana ou Yu Jun ou uma das velhinhas. A vida não era bela, mas pelo menos deixara de ser miserável.

 A energia extra precisava ir a algum lugar, e Daisuke relutantemente decidiu checar a tal academia no porão. Akihito fornecera à sua gangue equipamento profissional, e quase toda noite o local estava cheio de aparelhos para fisiculturistas ávidos. Nas noites mais cheias eles precisavam revesar o uso das máquinas.

 “Muita interação social.”

 O engraçado era que a maioria dos vampiros era composta de jovens magricelas e, sendo vampiros, eles nunca desenvolveriam músculos. Daisuke os observou enquanto se exercitavam, e viu bracinhos finos levantarem tanto peso quanto lutadores profissionais. Claramente a força vampírica não se originava de carne e ossos.

 Saiu da casa, se recusando a admitir que havia criado expectativas sobre a academia.

 O jardim havia sido um ótimo companheiro por várias noites, mas Daisuke precisava de mais. Hesitante, ele foi até a borda do telhado e saltou. Içou-se para cima e cuidadosamente subiu pelas telhas inclinadas. Eis um mistério: será que sob essas telhas se escondia um sótão enorme? Por qual parte da casa teria acesso a ele?

 — Uau.

 A visão do céu desimpedido de paredes e copas de árvores era libertadora. Com cuidado para não escorregar, Daisuke perambulou um pouco, prestando atenção no cenário noturno. Ele ainda estava na Cidade Alfa — percebeu. Bem, claro que estava. A força policial sempre soubera a localização da casa de Akihito, mas lá dentro era como um país à parte, fazendo Daisuke se sentir distante da cidade onde nascera e se criara. Do telhado ele via a Torre Alfa, e o distrito do Teatro. Os outros prédios na área não eram muito altos: gente rica espalhava suas casas pelo chão, ao invés de lançá-las aos céus.

 O telhado nunca estava completamente vazio. Daisuke não sabia se eles eram sentinelas ou apenas vampiros particularmente antissociais, mas pelo menos eles não o abordaram.  

 Em um dos lados da propriedade o telhado era próximo o suficiente do muro externo para que Daisuke tentasse um pulo. Foi fácil. Tão fácil, de fato, que foi mais um daqueles momentos em que Daisuke teve consciência de que não era mais humano. Em noites calmas, agora que não estava mais morrendo de fome, era fácil pensar em si mesmo como um refém, mártir, herói trágico… mas reféns podiam ser devolvidos, e mártires e heróis trágicos morriam, e nenhuma das duas coisas se aplicava a ele.

 — Ei!

 Foi tirado do seu devaneio pelo chamado de um dos vampiros do telhado, posicionado mais acima do que o grupo que normalmente ficava lá. Esse devia ser o sentinela.

 — Só explorando. — Daisuke pulou de volta para o telhado.

 Nos outros dias repetiu o exercício. Tinha certeza de que a qualquer momento Haruka o chamaria para impor algumas regras, mas queria aproveitar enquanto isso não acontecia. Daisuke chegou a dar uma volta inteira andando por cima do muro durante seus passeios noturnos. Os sentinelas não comentaram mais sobre isso, então desceu para a rua. Isso provocou uma reação. Num piscar de olhos o sentinela estava sobre o muro, pronto para pular sobre Daisuke se ele se afastasse demais.

 “Tá na hora de ver o quanto é ‘demais’.” o ex-caçador sorriu.

 Lentamente, noite por noite, Daisuke foi expandindo o perímetro. Andou pela calçada em frente ao muro, dobrou uma esquina e acompanhou toda a extensão do muro, atravessou a rua em pontos onde os subordinados de Akihito ainda conseguiam manter contato visual.

 Havia uma rua próxima com estabelecimentos comerciais — hotel para animais de estimação, uma lavanderia a seco, casa de chá, tabacaria, mercado de importados — tudo coisa de gente rica. Daisuke tinha certeza de que estava sendo observado quando foi lá pela primeira vez. E pela segunda e terceira até a décima quarta. Depois disso não tinha tanta certeza, mas preferia errar pelo excesso de cautela. Em outra ocasião entrou na tabacaria.  

 Entrar em qualquer lugar em que houvessem humanos era como entrar e uma padaria onde tinha acabado de sair uma fornada de pão fresquinho. Ele se forçava a relembrar as palavras de Haruka e a sensação de náusea que qualquer sangue que não fosse o dela lhe causava. Continuava sendo difícil. Depois de alguns minutos de tortura autoimposta folheando uma revista, retornava à mansão.  

 Essas excursões noturnas foram aumentando em frequência, distância da casa e duração — uma vez ele se sentou num banco de praça e não se moveu até que os tons cinzentos da aurora aparecessem no Leste — mas Haruka não parecia tomar conhecimento. Continuava a lhe dar sangue sempre que ele pedia, sem fazer nenhuma exigência.

 Daisuke finalmente decidiu fazer algo que considerava arriscado.

 Invadiu uma casa entrando pelo sótão. Como naquela vez em que o vampiro o provocara, sentia o sangue circulando, emoções fortes e magia bombeando-o agora que o coração não cumpria mais essa função. Não foi preciso quebrar a janela: a tranca era fraca e chacoalhá-la com sua força vampírica aumentada foi o suficiente. Nessa ocasião Daisuke checou os níveis de barulho na casa abaixo — a única moradora era uma velhinha que mal podia subir as escadas até o terceiro andar, então era improvável que ela viesse perturbá-lo no sótão — mas como medida de segurança ele fez uma barricada na porta com baús velhos e até um piano de gabinete quebrado. Também pendurou um tapete pesado e empoeirado diante da janela para impedir a luz do dia de penetrar o aposento.

 Quando amanheceu, ele foi dormir.

 Foi um sono agitado — afinal, não havia um futon macio e ele estava em um lugar estranho. O cheiro do dia lá fora chegava a ele com muito mais força do que no seu quarto na casa de Akihito, e se preocupava em ser encontrado por humanos ou vampiros. Ao anoitecer ele acordou, devolveu o sótão mais ou menos ao seu estado original e voltou ao esconderijo dos vampiros.

 Ninguém comentou sobre sua ausência. Ninguém o repreendeu. Ele foi até Haruka por uma porção de sangue. Ela não agiu de maneira diferente do normal.

 E assim Daisuke começou. Nas semanas seguintes procurou novos esconderijos e passava pelo menos uma noite por semana em algum deles. Não ousava passar mais de uma noite fora por vez, por medo de encararem isso como uma fuga e mandarem alguém atrás dele. Também não saía do território de Akihito. Não queria ser pego em conflitos entre gangues de vampiros, e tinha sentimentos mistos sobre encontrar caçadores, pois… bem… ele não queria viver como um vampiro, mas ele queria viver. Sabia que a força tarefa de caçadores agora o veria simplesmente como um inimigo. Eles tinham boas razões para isso: tantas pessoas mudavam quando eram transformadas em vampiros.

 “Eu me pergunto se eu mudei.”

 Havia, no entanto, uma caçadora que ele queria contatar. Jurava que os sentinelas de Akihito haviam desistido de segui-lo há meses, mas naquela noite fez uma rota estrategicamente criada para despistar perseguidores. Mais uma vez o coração estava acelerado. Discou o ramal dela num telefone público.

 — Charly?

 Daisuke ouviu sua antiga parceira prender a respiração.

 — Por favor, Charly, não desligue. Eu só quero conversar. Eu não vou pedir pra te ver nem nada, porque eu sei que tem regras contra isso e eu acho que essas são boas regras. Regras inteligentes. Mas eu estou realmente, realmente precisado de uma boa conversa. Você está com tempo?

 — Claro, hmm… só um segundo.

 Charlotte colocou o telefone no modo de espera, e Daisuke suspirou. Havia ligado para o ramal dela da delegacia porque supôs que a ex-parceira se sentiria mais segura se estivesse cercada de outros caçadores. Era um medo generalizado da Delegacia de Contenção de Eventos Paranormais que os ditos eventos paranormais os assombrassem quando estavam fora do trabalho, mas Daisuke sabia que esse era um medo pessoal de Charlotte desde que a fotografia tirada por Haruka fora encontrada no esconderijo de um grupo de vampiros.

 Foram meses tentando descobrir o que os vampiros queriam com a dupla, antes de descobrirem que os malditos sanguessugas pretendiam recrutar Daisuke. O alívio de Charlotte fora palpável, e ela se sentia tão, tão envergonhada por isso. Mas Daisuke entendia. Afinal, ela tinha um marido e filho pequeno. Já tinha até tirado os dois da cidade por medo de que eles fossem visados para atraí-la para uma armadilha. Era necessário, mas ela morria de saudade e suspirava pelos cantos. Daisuke não estava sendo dramático quando dizia que preferia ser ele o alvo dos vampiros do que vê-la assim.

 Por essa razão, imaginava que ela não ia querer um vampiro ligando no seu número pessoal. Mesmo se esse vampiro fosse Daisuke.

 — Voltei, desculpa a demora.

 “Você, e a equipe de inteligência com uma escuta no seu telefone.” Daisuke deu um sorriso enviesado. Não se importava.

 — Como você está? — ele perguntou com a voz suave. Estava ciente que os policiais do outro lado da linha o consideravam um predador e um inimigo, e sentia que precisava fazer tudo calmamente, de mansinho, para não afugentá-los. Tentava não pensar que essa era uma estratégia de predadores. Será que Charlotte encararia isso como um subterfúgio, ou entenderia que ele genuinamente sentia falta dela?

 — Eu… eu estou bem. — Daisuke esperou para ver se ela diria mais alguma coisa. Pela mesma razão pela qual não ligara para seu telefone pessoal, achou que não seria uma boa ideia perguntar a ela sobre o marido e o filhinho. Finalmente Charlotte pareceu recuperar um pouco a compostura. — E você, como está?

 Ele estava tão, mas tão feliz que ela tivesse perguntado. Geralmente não era do tipo conversador, mas meses de isolamento pesavam sobre ele.

 — Bom, eu estive enfurnado na casa do Akihito por… quanto tempo faz, Charly? Eu sei que são meses, mas eu perdi a conta de quantos. Seis? Oito? Às vezes eu falo com as criadas, mas as pessoas que trabalham para o Akihito são meio esquisitas, as famílias delas trabalham para ele há gerações, e elas acham que virar um vampiro é tipo… uma escolha de carreira ou sei lá! E quando eu saio as lojas estão fechando e é difícil estar perto de pessoas normais — ele não conseguia se forçar a dizer “humanos” como se fosse um grupo ao qual ele não pertencia — então eu nunca fico em lugar nenhum. Eles estão sempre falando japonês, mas não é como se eu fosse falar com vampiros de qualquer forma, e tudo do lado de fora cheira queimado e eu tenho medo de quando a Haruka abrir o jogo e eu não sei o que ela vai me pedir pra fazer e eu não sei o que vai acontecer comigo se eu não fizer. Eu sinto falta de ter conversas normais com pessoas normais, e eu sinto falta…

 Daisuke parou abruptamente, percebendo que seus olhos ardiam. Ele se acalmou um pouco antes de perguntar sobre algo que havia tentado empurrar para o fundo da mente.

 — Como o Yuusuke encarou as notícias?

 Yuusuke era seu gêmeo mais novo, apesar de os dois não se parecerem de fato. Ele ouviu Charlotte cobrir o bocal do telefone, mas ela não disse nada. Provavelmente perguntava com os olhos. Daisuke ouviu uma resposta abafada de outra pessoa, e Charlotte respondeu:

 — Ele já sabia qual era a sua área de atuação, então ele não ficou chocado. Mas acho que pra ele foi um golpe ainda pior, porque ele entende o que aconteceu. E… você conhece o protocolo. Nós o realocamos.

 — Eu sei. Não vou te perguntar sobre isso. É melhor se eles ficarem longe de mim. Ele contou para a mamãe?

 — Não. Sua mãe acha que você morreu. Seus sobrinhos também.

 Daisuke suspirou em alívio amargurado. Era mais fácil se as coisas fossem assim.

 — Obrigado, Charly. — quando ela não respondeu, ele se preparou para desligar. — Bom, acho que eu vou, então. Mais uma vez obrigado…

 — Espera. Nós… nós quase não conversamos. Eu… eu também senti sua falta.

 Daisuke escolheu acreditar que Charlotte não dizia isso porque a inteligência queria interrogá-lo. Ele escolheu acreditar que ela estava sendo sincera.

 — Ótimo. Hm… meu cartão telefônico só vai durar mais meia hora. Você tem algum assunto que você queira conversar?

 — Onze meses.

 — Quê?

 — Vai dar onze meses que você foi declarado morto.

 “Quase um ano”, Daisuke se surpreendeu. Entre tédio enlouquecedor e períodos sem ter energia o suficiente para levantar, não conseguia dizer que o tempo passara “rápido”, mas ainda estava surpreso.

 — O que você passou os últimos onze meses fazendo?

 Foi surpreendente ela não ter perguntado imediatamente sobre Akihito ou Haruka. Mas sua pergunta ainda podia estar carregada em outro sentido.

 — Eu não andei rondando as ruas à noite matando gente, se é isso que te preocupa. Faz poucos meses que eu saí da casa pela primeira vez. Geralmente eu só ficava por lá, falando com as criadas, literalmente esperando o tempo passar, porque eu não queria socializar com o grupo do Akihito. E quando… quando a sede fica insuportável eu vou ver Haruka. — ele pausou. Já tivera monólogos o suficiente para uma só noite, então deixaria Charlotte participar da conversa pelo menos através de perguntas. Ela não o desapontou.

 — Haruka é a irmã dele?

 — Sim.

 — Foi ela que te transformou? Não o Akihito?

 — Sim.

 — E por que você vai vê-la quando está… com sede?

 — Ela… ela tem uma habilidade sanguínea. Não é como as coisas legais que o Chefe nos mostrava nos treinamentos, mas é bem real.

 — Qual é a habilidade dela?

 — Bom, aparentemente as pessoas que bebem o sangue dela adquirem dependência. Nenhum outro sangue serve.

 — Então… isso quer dizer que se Haruka transforma alguém em vampiro, esse vampiro não pode beber sangue humano?

 — É exatamente isso que significa. — “Eu não posso beber sangue humano. Você está feliz, Charly? Eu sou provavelmente o vampiro mais inofensivo que você vai conhecer.”

 — Desculpa, Dai, mas eu não sei se eu acredito nisso.

 — Não estou te pedindo para acreditar. Eu não acho que faça diferença. Os vampiros ainda são os caras maus.

 — Mas… se houverem vampiros que não machucam as pessoas… eles não teriam que ser. Alguns vampiros também são vítimas.

 — Você não precisa defender vampiros só porque agora eu sou um. — Daisuke a repreendeu, mas então uma ideia lhe ocorreu — Espera, aconteceu mais alguma coisa?

 — É que… foram sete dos nossos. Oito, contando com você.

 Daisuke ficou chocado, e com razão. Durante os oito anos em que fora um caçador de vampiros, nenhum policial jamais fora capturado e transformado. Mesmo para o Chefe, com mais de vinte anos de carreira só no DECEPA, a última história de um caçador transformado em vampiro já era velha na época em que ele se juntou à força.  

 O comentário desbloqueou uma lembrança que tinha ficado jogada de lado em prol de assuntos mais urgentes, como não morrer.

 — Eu vi a Nat.

 — Sério, Dai? Onde?

 — Foi bem de passagem, acho que ela não me viu. Foi na casa do Akihito.

 — Então foi ele que…?

 — Não. Foi a Alana. Eu acho que você não a conhece. Ela é o nosso “elemento X”. Ela usa óculos e tem cabelo azul até a cintura. Todos na gangue dela tem pelo menos uma mecha de cabelo azul também. Até a Nat. E Alana tem poderes de gelo.

 Dava pra ouvir que a informação causava uma comoção do outro lado da linha.

 “De nada”, Daisuke pensou.

 — Por que é que certas coisas são tão legais em histórias em quadrinhos, mas tão assustadoras na vida real? — Charlotte perguntou, e dava pra ouvir o sorriso na voz dela. Se fosse para contar essa última frase como piada, com certeza era uma das piores dela, mas Daisuke estava feliz que a caçadora voltara a tratá-lo com humor.

 Um bipe soou no telefone de Daisuke e ele suspirou.

 — Só mais cinco minutos.

 — Você pode ligar amanhã?

 — Só se a polícia não se importar de pagar. Eu não tenho dinheiro para outro cartão telefônico, mas eu sempre posso fazer uma chamada a cobrar.

 — Bom, se der problema eu posso te ligar nesse orelhão.

 Alguma coisa na mente de Daisuke declarou um “Alerta Vermelho”.

 — Charly… até amanhã vocês já vão saber onde esse telefone está. Eu não quero ficar distraído falando com você só para outra equipe chegar metendo uma bala amaldiçoada pelas minhas costas. Eu vou te ligar amanhã, mas não consigo me forçar a cair em uma armadilha. — pensou no desespero que sentiu enquanto Alana bebia seu sangue e ele achava que ia morrer: o desespero que finalmente o fizera se submeter a ser alimentado por Haruka, se ajoelhando diante dela toda vez que queria sangue. Tornou a falar.

 — Eu gosto de estar vivo, mesmo sendo um vampiro.

 — Daisuke, nós nunca iríamos… — Charlotte deve ter olhado ao redor, e ao encarar os outros caçadores de vampiros percebeu que sim, eles iriam. Essa era provavelmente a primeira vez que ela percebia que não havia honra entre caça e caçadores.

 — Eu sinto muito. — ela disse.

 — Eu não vou te odiar por fazer o seu trabalho, Charly. Mas eu também não vou me entregar.

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