Precisamos falar sobre Marian - Nº2

Então, eu não dominei a arte de terminar os capítulos em cliffhanger (ao contrário de uma certa Lis Vilas Boas me torturando com Areia e Pólvora...), mas espero que vocês estejam interessados no que nossa visitante tem a dizer. Com vocês...

Capítulo Dois

Robin, frei Tuck e Allan estavam sentados com a mulher no pequeno aposento que servia como residência do frade. João Pequeno e Will estavam movendo a comida roubada para um esconderijo, para que uma inspeção casual do xerife não revelasse a associação entre o religioso e os foras da lei.

— Minha irmã me falou para procurar o senhor — ela começou a explicar a Robin. — Ela disse que o senhor recolheu o marido dela quando o xerife tentou levá-lo.

— Quem é o marido dela?

— Peter. Eles viviam na beira da estrada para Wilford.

Peter de Wilford. Robin sabia exatamente de quem ela estava falando. O xerife planejara enforcá-lo para servir de exemplo aos aldeões que não estavam pagando os impostos. Eles o haviam resgatado, e Peter vivia foragido, longe da esposa e dos filhos, até que sua sentença fosse revogada.

— Você é irmã da Isabel.

A mulher assentiu, impressionada.

Robin não achava que saber os nomes das esposas e filhos de seus homens fosse uma tarefa particularmente difícil ou digna de nota. Era tudo sobre o que eles conversavam, todos os dias, o dia todo. Lembranças de bons momentos, planos para um futuro "quando o Rei retornar e tudo isso acabar". Robin não acreditava que o Rei iria retornar — e, se retornasse, provavelmente seria só mais um nobre ocioso, alheio às necessidades das pessoas que moravam em suas terras —, mas gostava de ouvir as conjecturas esperançosas.

A mulher continuou sua história. Chamava-se Mary e era a viúva do moleiro. O falecimento do marido ainda era um negócio recente.

Robin olhou para o adolescente. Seu olhar ainda era assombrado pela perda, e cheio de rebeldia pelo mundo que a causara. Quando Will foi morar com ele, após a morte da mãe, o sobrinho tinha a mesma expressão. Robin sabia por experiência própria que um menino daquela idade precisava ter alguma coisa para fazer, senão todas as perguntas sem resposta sobre o sentido da vida — e sobre o sentido do sofrimento na vida — o consumiriam.

— Então você é o homem da casa agora. Qual é o seu nome?

— Nick, senhor.

— Nick, o filho do moleiro... é um bom nome. E não precisa me chamar de senhor. Quantos anos você tem?

— Doze... mas vou fazer treze antes do inverno.

Muito jovem. Quer dizer... Will era mais novo que isso quando Robin começara a carreira de fora da lei, mas era diferente. Arrastara o sobrinho por esse caminho por acidente, ele mesmo sem saber muito bem como havia chegado lá. Ao receber o sobrinho órfão pra cuidar, Robin fora forçado a reconhecer que a vida era difícil para todos... mas era sistematicamente desenhada para dificultar as coisas para as viúvas e os órfãos. Entrar no caminho do banditismo, "roubando dos ricos para dar aos pobres", lhe fizera enxergar os outros grupos vulneráveis. Começara a recolher aqueles que estavam abandonados, dar um lar aos que não podiam trabalhar pelo próprio sustento, e uma função para os que podiam. O Bando Alegre crescia, aumentando o alcance da rede de apoio que proporcionavam, mas parecia que o descaso dos nobres e a crueldade do xerife aumentavam proporcionalmente. Às vezes, Robin achava que nunca ia ter fim. Não. Não podia trazer Nick para a vida de fora da lei, não sabendo do estado de privação e constante ansiedade a que estaria submetendo o rapaz e sua mãe. Forçou esses pensamentos para o fundo da sua mente, e o sorriso de volta ao rosto.

— Muito bom, muito bom. — Voltou-se para Mary. — E vocês estão conseguindo tocar o moinho?

— Os homens do xerife vieram.

Os três homens suspiraram em uníssono. Nunca era uma boa notícia quando o xerife e seus homens estavam envolvidos. O tom desesperado da mulher confirmava isso. Ela continuou:

— Eles começaram dizendo que eu devia impostos, mas eu já tinha pago! E então eles me acusaram de abrigar criminosos e viraram a casa toda de ponta cabeça! Eles tiraram a mó do moinho da posição, levaram metade do nosso estoque e despejaram o resto no chão! Agora estamos com nossas encomendas atrasadas, e sem poder produzir mais. Foi quando Isabel me disse para procurar o senhor, mas eu não sabia como entrar em contato. Eu... eu tentei perguntar para pessoas na cidade, e o senhor Dale me encontrou.

Allan assentiu. Era parte do trabalho dele identificar quando pessoas começavam a fazer muitas perguntas sobre Robin Hood, e quais as motivações delas. Não duvidava que o trovador já tivesse dado cabo de algum espião em uma travessa deserta. Allan tinha uma espécie de escuridão dentro dele, algo que Robin não conseguia entender.

— Senhora Mary, meus homens e eu ficaríamos honrados em ajudá-la.

Era muito difícil sorrir e manter a fachada do "Bando Alegre" quando Robin sentia que parte da culpa era sua. Ele e seus foras da lei eram uma pedra no sapato do xerife. Ele sabia que Robin Hood e seus amigos se abrigavam na floresta de Sherwood, mas era covarde demais para persegui-los ali, e precisava mostrar serviço ao Duque de alguma forma. Assim, o abuso contra os fracos e indefesos se agravava.

Ao fim da reunião, voltaram para o quintal da igreja. Marian supervisionava as crianças brincando. Ela olhou para Robin com uma expressão questionadora, e ele fez um sinal para indicar que conversariam depois. Frei Tuck levou Mary para o armazém secreto, dando a ela uma cesta de mantimentos que pudesse durar até que o moinho fosse consertado.

— Isso está ficando ridículo — João Pequeno murmurou quando Robin explicou a situação apressadamente. Era arriscado para o bando de Robin Hood deixar o esconderijo para executar os reparos no moinho, mas teriam que receber a mulher e os dois filhos pequenos como refugiados na floresta se não fizessem isso. — O moinho é parte do patrimônio do Duque. Não faz sentido causar dano à propriedade do Duque. Se ele não estivesse viajando, o Xerife Patife nem sonharia...

Robin lhe lançou um olhar de aviso, e João Pequeno suavizou o tom. Marian e Will ainda distraíam as crianças ali perto, e deviam manter a aparência feliz e despreocupada na frente delas. Pelo menos na frente delas. João Pequeno não era bobo. Sabia que Robin não tinha metade da confiança que fingia, mas inspirava confiança nos outros porque ele se importava. Seus esforços incessantes para mudar as coisas convenciam até os estoicos e desesperados a se importar também, e era por isso que o seguiam.

A um chamado da mãe, as crianças se juntaram a ela, e a família começou a se despedir.

— Quando eu crescer, eu quero me juntar ao seu grupo, senhor! — Nick declarou.

— Só "Robin" está bom. — Ele bagunçou os cabelos do menino de forma afeiçoada para atenuar o que diria a seguir. — Mas nós não estamos recrutando no momento, e você precisa voltar pra sua casa.

Ele disse essas palavras olhando por cima da cabeça de Nick, direto para Marian.

Continua...

E agora, como Marian vai reagir a indireta? Eu não sei fazer suspense! Enfim... vejo vocês na semana que vem.

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