Precisamos falar sobre Marian - Nº 1

Então, hoje começa a minha historinha "Precisamos falar sobre Marian". Pra quem prefere ler tudo de uma vez, ela já está completa no Inkspired. (Eu escrevendo isso duas semanas antes do envio com a maior confiança do mundo, tomara que eu lembre de voltar e adicionar o link do Inkspired kkkk)

Conforme for tendo novidades, vou colocar antes do capítulo de forma breve. Quando essa história terminar em meados de julho, vocês vão notar um certo silêncio da minha parte. Eu ainda estou tentando achar uma nova rotina de escrita, e com sorte vou estar trabalhando no meu projetinho de vampiros.

Por enquanto é isso. Sem mais delongas...

Capítulo Um

Marian estava fora de controle. Robin se agarrou ao assento enquanto a moça instigava os cavalos a velocidades que a carroça não fora feita para aguentar. Era normal as moças nobres passarem por uma fase rebelde, um desejo de ir contra a vontade dos pais, de se associar a companhias menos respeitáveis... mas isso já era demais. Era o quinto roubo da semana!

A capela apareceu além de uma curva da estrada, e Robin não tinha certeza se os cavalos conseguiriam parar, mas Marian puxou as rédeas com tanta energia que a carga da carroça fez um "oomph" — um som muito semelhante a Will sendo esmagado por fardos de mantimentos roubados.

一 Pai Santo, Robin, eu não esperava vocês até depois do meio-dia!

Frei Tuck e João Pequeno haviam deixado a igrejinha ao ouvir o alvoroço da carroça, e imediatamente começaram o trabalho de descarregar.

一 Eu achei que era melhor vir rápido pra não passar tanto tempo na estrada 一 Marian disse alegremente, o cabelo e o vestido um verdadeiro desastre por causa da poeira da estrada e do feno dos palheiros onde haviam montado tocaia. 一 Will fica enjoado em viagens longas.

Por cima do ombro, Robin espiou o rapaz de camisa vermelha colocando seu café da manhã para fora em um arbusto. Então se dirigiu aos homens parados em frente à igreja.

一 Onde está o Allan?

一 Oh, você sabe como ele é — disse o frade. — Deve estar flertando, juntando uns trocados na cidade, vendo quem vai precisar da nossa ajuda para passar o inverno, tentando descobrir os novos planos do xerife para capturar você.

一 Hm... 一 Robin olhou para os lados, certificando-se de que os mais novos estavam fora do alcance auditivo, e sussurrou para o frade: 一 Precisamos falar sobre a Marian.

Por um instante, Tuck pensou em se fazer de desentendido e assistir ao desespero de Robin tentando explicar a situação, mas teve pena do príncipe dos ladrões. Foi com ele para dentro da igreja, garantindo proteção contra ouvidos curiosos.

— Quando o pai dela volta?

— Eu não faço ideia.

Tuck sorriu para ele, demonstrando solidariedade. Marian simplesmente aparecera na vida deles um dia, se oferecendo para distrair os guardas durante um assalto, e, durante a comemoração pelo roubo bem-sucedido, casualmente revelara ser a filha do Duque. Isso já teria sido extremamente desconcertante por si só, mas as coisas só degringolaram a partir dali. Marian continuou a aparecer na vida deles quando o Duque estava ocupado, participando dos esquemas malucos de Robin e começando a criar os próprios esquemas malucos.

A pior parte sobre a menina é que ela estava rapidamente se tornando um membro inestimável do time. O frei lembrava que no ano anterior Robin levara o dobro do tempo para juntar os mantimentos necessários para o inverno. Claro que ele havia aprendido muito desde os primeiros roubos de sua carreira de fora da lei, mas seriam cegos se não reconhecessem as habilidades de planejamento de Marian. Ela conhecia bem as terras e os vassalos do pai, estava a par das colheitas dos últimos anos, do calendário de recolhimento de impostos e de pequenas trivialidades, como aniversários e casamentos que garantiam que os celeiros estariam cheios ou que uma carroça a mais não seria notada. Somando tudo, ela seria uma administradora incrível para a fortuna de seu pai... se o Duque não insistisse em querer passar sua propriedade para um herdeiro homem.

Talvez, frei Tuck refletiu, essa fosse a razão pela qual a garota se rebelava. Era difícil uma mente jovem e brilhante se conformar com um papel secundário na vida apenas por ser mulher.

— Robin, Allan está chegando! — Marian colocou a cabeça pra dentro da capela e saiu como um relâmpago um segundo depois. Ela tinha tanta energia!

Robin suspirou.

— Eu não tenho mais idade pra isso, frade.

Tuck riu.

— Que é isso, Robin. Você é jovem!

Tornaram a sair e foram recebidos pelos acordes familiares de um alaúde. Allan ainda estava distante, mas o ar calmo do outono carregava sua voz límpida por vários metros.

"Cavaleiro e seu cavalo

Lança na mão até dar calo

Vai salvar uma princesa

De cima da torre um dragão

Que quer comer seu coração

Com garfo e faca na mesa..."¹

Allan andava devagar. A lentidão — e a cantoria — podia ser explicada pela companhia: duas crianças pequenas, dançando e correndo ao seu redor; uma jovem mãe cansada um pouco atrás, carregando um bebê; e um filho um pouco mais velho, caminhando ao lado dela com uma expressão amuada.

O bando entrou em ação imediatamente. Marian correu na direção do músico, cumprimentando a mulher e se oferecendo para carregar o bebê. Will, já recuperado, a seguia de perto. Tirou do bolso alguma quinquilharia para mostrar às duas crianças menores. Robin e o frei Tuck abandonaram as expressões sérias, abrindo grandes sorrisos e acenando para o menestrel.

一 Pare de cantar, Dale! A pobre mulher já teve infortúnios o suficiente por um dia! 一 Robin gritou numa provocação amigável, e Tuck deu uma risada tão profunda e deliciosa que sua barriga começou a sacudir por baixo da batina.

A visão arrancou uma risadinha do filho mais velho, e mesmo a mãe sorriu. Os olhos de Robin brilharam com o senso de dever cumprido. Havia uma razão pela qual ele e seus homens eram conhecidos como o "Bando Alegre". Mas por dentro seu coração estava pesado. Eram foras da lei e, se aquela mulher buscava sua ajuda, a situação devia ser extrema.

(Fim do capítulo um)

Notas

1. O poema é uma contribuição de Bruno Victorino, sob licença Creative Commons.

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